Em 1999 venci a eleição para o governo do Estado numa chapa bastante plural e inovadora. Jovem, ex-prefeito de uma cidade do interior, tendo como vice uma mulher negra, oriunda das comunidades do Rio. A chapa Garotinho / Benedita representava claramente o lado excluído do Rio.

No ano de 2001 criei um programa de cotas para afrodescendentes nas universidades do Estado. Foi o primeiro do país e causou muita polêmica. Dezenas de artigos em jornais e revistas criticavam minha atitude pioneira. Na ocasião, o então candidato a presidente da República, Lula, me telefonou e disse: "uma atitude corajosa!". À época, a universidade era comandada por uma mulher, a reitora Nilcéa Freire, do PT. Lula chegou à presidência e em seus dois mandatos não implantou cotas para negros nas universidades federais, fato que só veio a ocorrer no segundo ano de mandato de Dilma Rousseff, quando eu já era deputado federal.

O Brasil é um país de alma feminina - 53% da população - e negra - 57% dos brasileiros. Vive em um verdadeiro apartheid racial e social. É difícil crer que não haja, entre as 58 milhões de mulheres negras do Brasil, uma única com 35 anos de idade, notório saber jurídico e conduta ilibada para ocupar a suprema corte do país. O presidente pode ter os seus motivos políticos e pessoais para fazer outras escolhas mas continuará mantendo essa terrível desigualdade na representação feminina e negra no país. Para se ter uma ideia, no Congresso Nacional, entre 513 deputados, são 91 mulheres. Apenas 17%. E somente 134 pessoas pretas ou pardas - 26%.

Chega a ser desonesto, num país de maioria negra e feminina, que abriga a maior população afrodescendente fora do continente africano, a sub representação de mulheres e negros nos espaços de poder do país.

Toma coragem, Lula. Nomeie uma mulher negra para o STF.

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