Chega a ser surpreendente que após ter aparecido nas operações Vega, Monte Carlo, Saqueador e Lava Jato, Fernando Cavendish ainda não tenha uma delação premiada homologada. Muito estranho!
Aliás, causa estranheza muita coisa sobre Cavendish. Segundo o Ministério Público Federal, em documento que enviou ao juiz da 7ª Vara Federal, Marcelo Bretas, a Delta teve R$ 11 bilhões de faturamento entre os anos de 2007 e 2012, e desse montante, 96,3% de contratos com governos estaduais, municipais e federal.
Enquanto a maioria dos empreiteiros levou meses na cadeia, alguns ainda estão lá, Cavendish, embora cometendo crimes confessados, teve uma rápida passagem pela prisão e desde agosto do ano passado foi para casa.
Outro mistério é que, apesar de ser personagem das obras mais polêmicas em diversos estados, sendo os principais Rio, São Paulo e Goiás, além de empreendimentos do governo federal, espalhados por todo o Brasil, Fernando Cavendish tem apenas uma condenação, que não tem nada a ver com essas operações, desvio de verba em obra na Lagoa de Araruama, na gestão do prefeito de Iguaba Grande, Hugo Canelas.
Cavendish conseguiu acabar com uma CPI. E toda a vez que sua delação está próxima de ser homologada, surge o nome de um figurão que ele incluiria. Já ameaçou governadores, prefeitos de capitais, membros do Judiciário, a verdade é que a corrupção mais comprovada em pagamentos de propina foi a dele quando foi descoberto o “mar” de empresas fantasmas, montadas por Adir Assad, Carlos Cachoeira, Marcelo Abud, e outros que apenas emitiam notas frias para que Cavendish pudesse pagar propina a diversas autoridades.
Como pode Cavendish ainda não ter sido condenado ou ao menos sua delação concretizada? Um mistério...
Não existe alguém que tenha tido seus negócios tão detalhadamente investigados do que ele. Por que tudo permanece em silêncio em relação àquele que originou a primeira denúncia contra Sérgio Cabral?
Outro mistério é a venda da Delta para o grupo espanhol Essentium, onde a explicação do novo gestor estrangeiro não é nada convincente, afirmando que a empresa pretendia faturar em dois anos US$ 1 bilhão com novos contratos. Também assumiu o passivo da empresa estimado em R$ 250 milhões na época da negociação.
Na delação do doleiro Lúcio Funaro, ele conta que Joesley Batista chegou a acertar a compra da Delta, com financiamento do governo, que Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima haviam garantido o dinheiro para a operação aos irmãos Batista, que desistiram temendo uma repercussão negativa.
Seu julgamento na 6ª Turma do STJ, que concedeu a prisão domiciliar a Fernando Cavendish e Carlinhos Cachoeira terminou num surpreendente dois a dois, e prevaleceu o princípio do “in dubio pro reo”.
Cavendish não tem o dinheiro de Marcelo Odebrecht, nem dos grandes executivos de outras empreiteiras, como Andrade Gutierrez, UTC, OAS, e outras, mas algo muito poderoso sobre alguém ele sabe, afinal, por que continua em casa quando seus colegas do ramo passam temporadas no xilindró?
Por que não é julgado e nem assina a delação premiada?
Outro dia ouvi a frase de um importante entendedor da política brasileira: “Sabe qual é a atual semelhança entre o Rio e Brasília?”. Antes que eu respondesse, ele me deu a resposta: “Quem manda mesmo, tem poder e dá as ordens está na cadeia, um Curitiba, outro em Benfica”. Custei a acreditar, mas após uma longa explicação sobre o fenômeno Fernando Cavendish, cheguei à conclusão que ele estava certo. E que o “cara” (Fernando Cavendish) tem padrinhos muito fortes no Rio, em Brasília e em São Paulo, e seus protetores são supra partidários, e encontram-se em quase todos os partidos do país.
Vai continuar assim?