As imagens do vídeo que vocês verão abaixo foram enviadas por policiais do Rio Grande do Norte a colegas do Rio que o fizeram chegar até a mim. Não deixam dúvida, o sistema criminal brasileiro está falido, o mesmo acontece com o sistema prisional, e, numa análise mais sociológica com a própria sociedade brasileira. Venho repetindo há anos uma frase: “O pior homem do mundo é aquele que não tem nada a perder”.

Quantas pessoas o Brasil, com sua sociedade extremamente desigual, gera por dia nessas condições de não ter nada a perder?

Aliás, dados apresentados no encontro mundial dos ricos, em Davos, na Suíça, mostram a que ponto chegou a desigualdade no mundo e no Brasil. No mundo 8 personalidades têm a mesma riqueza acumulada que 50% da população mundial. No Brasil esse número consegue ser pior ainda, seis brasileiros, sendo praticamente dois grupos, detêm a mesma riqueza que 100 milhões de brasileiros.

Uma sociedade assim não pode produzir boa coisa e como em todos os períodos de grandes transformações, os abismos precedem a grandes privilégios. Depois do vídeo não deixem de ler a incrível e provavelmente irreal entrevista concedida pelo líder do PCC, Marcola, onde ele praticamente avisa à nação brasileira que uma guerra está em curso, que seu “exército” possui 100 mil homens armados e destemidos, e que quem tem medo de morrer é quem está na rua.

É chocante! Foi publicada há alguns anos.



O GLOBO: Você é do PCC?

- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão…

O GLOBO: – Mas… a solução seria…

- Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.

O GLOBO: – Você não têm medo de morrer?

- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.

O GLOBO: – O que mudou nas periferias?

- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”… ha, ha… Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

O GLOBO: – Mas o que devemos fazer?

- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, “Sobre a guerra”. Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas… A gente já tem até foguete anti-tanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí… Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas… Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”, daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou? Ipanema radioativa?

O GLOBO: – Mas… não haveria solução?

- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”. Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco…na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate!” Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.


Comentários

22/01/2017

01:19

Gregorio - rio de janeiro

Esta fala do Marcola parece um texto do Jabor. Tem o ritmo da fala do Jabor. Tem figuras de linguagem recorrentes do Jabor. E nenhuma prisão do mundo excetuando-se talvez a Italia, tem Dante na biblioteca da prisão . Besteirol do Jabor.

22/01/2017

02:35

alexandre - rio de janeiro

Para enfrentar toda essa desigualdade social, eu já disse. GAROTINHO PRESIDENTE DO BRASIL!!!!

22/01/2017

05:07

Leandro Varela - Rio de janeiro

J E S U S S S S S S ! ! ! ! ! ! Põe no face para compartilharmos, pode ser????

22/01/2017

05:32

Beatriz - Rio de Janeiro

Existe sim uma solução final para esse inferno dantesco. O extermínio de 1 - 2 milhões como ocorreu em 1965 no golpe de estado na Indonésia que depôs o presidente Suharto e relocação compulsória das favelas. Não subestime o instinto de sobrevivência de uma classe social quando ameaçada de morte.

22/01/2017

11:46

Verônica - Onde está o italiano perigoso ?

Será que o presidente Michel Temer já extraditou o terrorista italiano Cesare Battisti ?

23/01/2017

12:33

ANONIMO - XXX

Me desculpe, mas se fosse um país sério esses noticias nem seriam dadas. O que está acontecendo é simplesmemnte uma UMA VERGONHA, nem palavras tenho para comentar essa BARBARIDADE, essa ANARQUIA de país sub, sub, desenvolvido, estamos voltando aos tempos do cangaço de lampião. VERGONHA

23/01/2017

02:18

Lena - Cidadania

Li e não paro de pensar nas crianças órfãs do Brasil. Marcola foi uma crianças órfã de pai e mãe. Nós temos 60.000 assassinatos ao ano maioria jovens, quantos deles deixam filhos pequenos, cujas mães hoje devem estar passando necessidades para sobreviver? O desrespeito á cidadania, a miséria, exclusão social, descaso, incompetência, preconceitos, desigualdades gerararm o momento ao qual estamos submetidos, de medo, insegurança e desesperança.