Pacientes comem com os pratos na mão (Imagem do Jornal Nacional)
Pacientes comem com os pratos na mão (Imagem do Jornal Nacional)


Ontem o Jornal Nacional mostrou uma matéria sobre a situação precária de um dos quatro centros de atendimento aos doentes mentais no município de Campos, segundo William Bonner foi usada uma câmera escondida para captar imagens de pessoas dormindo em colchonetes no corredor e comendo com pratos na mão e não na mesa.

Não tem justificativa. Conheço a prefeita Rosinha muito bem e sei que ela irá demitir todos os responsáveis por aqueles desmandos. O orçamento de Campos deste ano para a saúde é de mais de R$ 500 milhões e não se justifica, a não ser por desleixo do responsável por aquela unidade , o tratamento dispensado aos doentes mentais. A cidade de Campos hoje é referência nacional na vacinação de crianças contra meningite viral, a cidade não registra um único caso há três anos, e na vacinação de todas as meninas contra o HPV, que provoca o câncer do colo de útero.

Há também dezenas de outros programas de saúde importantes, portanto tenho a certeza que Rosinha irá punir os responsáveis pelo mau atendimento prestado.

Mas uma coisa me chamou a atenção, não sou burro. Para mostrar o problema da saúde, a Globo não precisaria destacar um repórter especial e enviar a Campos. Os senhores sabem o sofrimento dos moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro nos postos de urgência e UPAs. Todos os dias morrem pessoas sem atendimento no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu ou no Souza Aguiar ou no Getúlio Vargas ou em muitos outros. Engraçado que a Globo não mostra nada.

Por que então a Globo mostrou aquela reportagem justamente ontem em horário nobre? Foi um recado, não endereçado à prefeita, mas a mim. Vocês devem estar lembrados que no último dia 20 subi à tribuna da Câmara para denunciar a inclusão na Medida Provisória 582 de mais um privilégio à imprensa brasileira. A emenda apresentada pelo senador Francisco Dornelles (PP - RJ) e aprovada garantirá às empresas de comunicação o direito de pagar suas folhas de pessoal em apenas 1% no lugar dos atuais 18% de contribuição trabalhista. Critiquei também o fato das emissoras de rádio e televisão serem concessões públicas e ainda assim terem como maiores clientes os governos estaduais, municipais e federal. Mostrei também que embora chamada de propaganda partidária e eleitoral gratuita, o espaço é muito bem pago pelo governo. No ano passado como forma de compensar o espaço cedido ao horário de propaganda partidária as empresas deixaram de pagar em impostos de toda a natureza devidos ao governo federal quase R$ 1 bilhão. Mostrei ainda uma dezena de outros privilégios das empresas de comunicação, como por exemplo a isenção fiscal de jornais e revistas para a aquisição de papel, e é bom lembrar que também não pagam ICMS sobre a venda dos seus jornais e revistas.

Ainda mostrei que devido à grande fortuna de publicidade injetada pelo governo federal e pelos governos estaduais na Globo, a família Marinho voltou a integrar o ranking dos mais ricos do Brasil. Por último destaquei que é inadmissível em plena era da internet, o lobby dos jornais e revistas continuar impondo às grande empresas nacionais a obrigação de publicarem em jornal impresso os balanços anuais. Em todos os países civilizados do mundo as grandes indústrias e empresas prestadoras de serviços já tiraram esse custo das suas contas publicando seus balanços na internet, aliás já avisei que vou apresentar um projeto acabando com esse privilégio.

Vocês aqui no blog mesmo podem conferir o que eu estou falando. Assistam abaixo o meu discurso.

Quero deixar claro que uma coisa, o mau atendimento aos doentes mentais, não tem nada a ver com a outra, a matéria do Jornal Nacional. A prefeita Rosinha certamente vai tomar as medidas necessárias para punir e mudar o que está errado e não fará como a Globo que quando lhe interessa joga a sujeira para debaixo do tapete.

E como podem ver não escondo no blog notícias negativas, nem fujo de me posicionar quando alguma coisa está errada mesmo que seja na gestão da prefeita Rosinha, afinal o meu compromisso é com a verdade.





Em tempo: Reproduzo abaixo o comentário postado pelo médico Flávio Mussa Tavares que trabalha no CAP mostrado ontem pelo Jornal Nacional, e que é importante ressaltar, não ocupa cargo de confiança na prefeitura, é médico concursado.

Sou médico do CAPS III. É para mim uma alegria lidar com a clientela sofrida que faz parte de nossa rotina. Os CAPS foram instituidos no Brasil em 2001, na chamada Reforma Psiquiátrica que extinguiu os manicômios.

Nossa clientela é a maioria oriunda desse sistema. São chamados clientes "institucionalizados", que pode ser traduzido como um paciente que não sabe viver sem a instituição.

O CAPS III Romeo Casarsa, que foi protagonista de uma matéria veiculada no Jornal Nacional de hoje foi inaugurado em 2009. Temos mais de 300 pacientes, dos quais atendemos mais de 80 ao dia.

Nenhum de nossos pacientes é acamado. Aliás, uma regra da instituição psiquiátrica é que o paciente esteja com o nível de consciência alerta e podendo andar. Caso sua consciência esteja apagada ou não consiga andar, configura uma caso clínico e não psiquiátrico. Nosso paciente é vertical. O paciente clínico é horizontal. Essa demanda é externa, isto é, não dorme na instituição.

Mas temos sempre cerca de 6 pacientes internados, que geralmente permanecem lá em períodos de crise que não ultrapassam 7 dias.

Essa clientela, que vivia em hospitais, vive hoje uma realidade que concordamos é pobre, mas não há indignidade. Nossa clientela recebe quatro refeições por dia (desjejum, almoço, lanche e janta), tem atendimento médico, psicológico, terapia ocupacional, música, fazem bijuterias e tem até uma grife: "Loucas por Acessórios".

Essa clientela usa medicação sedativa. Eles passam o dia na instituição. Eles tem sono e deitam de dia.

Nós não temos leitos para 20 ou 30 pessoas que não estão propriamente "dormindo", mas sim descansando, tirando uma soneca de dia.

A forma como foram veiculadas as imagens sugerem que são pacientes internos que vivem amontoados ou que são acamados e estão sendo humilhados.

Reconheço que não temos o espaço físico adequado, entretanto, o que se viu foi uma hora de descanso em que muita gente deitou em colchonetes no mesmo horário. Detalhe: o horário é diurno!

Todos estes que estão ali repousando voltam para casa entre as 17 e 18 horas, após receber uma quentinha do jantar.

O clima ali só é agitado quando alguns pacientes apresentam crises de agitação ou agressividade. Nesses momentos, o corpo de enfermagem contém fisicamente até que seja feita a medicação tranquilizante.

Nunca vi ninguém ser humilhado, maltratado ou ignorado no Caps III.

Faria mesmo um desafio. Gostaria que os repórteres da Globo entrevistassem os nossos pacientes. Seria uma forma sadia e madura de avaliar a instituição.

De qualquer forma, eu me sinto honrado em fazer parte do corpo técnico do CAPS III, que no meu entender é de primeira qualidade e supera as dificuldades materiais, supera as dificuldades de lidar com o paciente mais marginalizado de nossa sociedade e supera as dificuldades de lidar com a intriga, a calúnia e a ingratidão.

Flávio Mussa Tavares


Comentários