Foto: Luiz Ackermann - O Globo
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Enteado de Pezão é investigado por contratos com fornecedoras do RJ
Escritório de advocacia de Roberto Horta Jardim representou empresas com vínculos com o governo

HÁ QUANTO TEMPO EU FALO ISSO!

O enteado do governador afastado Luiz Fernando Pezão (MDB), preso na última quinta (29), é investigado sob suspeita de participar do esquema de arrecadação de propina no estado.

Roberto Horta Jardim é sócio de um escritório de advocacia que representa “mais de 50 construtoras e outras empresas contratantes com o Estado" diz a Procuradoria-Geral da República. Ele foi alvo de busca e apreensão na Operação Boca de Lobo, que prendeu Pezão. A suspeita é de que o enteado tenha estruturado um esquema de recebimento de propina e lavagem de dinheiro semelhante ao atribuído pela ex-primeira-dama Adriana Ancelmo. Ela já foi condenada em quatro ações penais vinculadas ao caso por ter emitido notas fiscais de seu escritório sem a prestação de serviço para justificar o repasse de dinheiro ilícito para o marido, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Entre os clientes da banca de advocacia de Horta Jardim está a JRO Pavimentação, cujos sócios Cláudio Vidal e Luiz Alberto Gomes Gonçalves também foram presos na operação. Eles são suspeitos de serem um dos responsáveis por receber parte da suposta mesada de R$ 150 mil pagas em dinheiro por Cabral a Pezão.

A PGR vincula o grupo de Pezão ao de Cabral em razão de um e-mail enviado por Luiz Carlos Bezerra, “homem da mala” de Miranda, ao empresário Cesar de Amorim, dono da empresa High End. A firma foi a responsável por instalar um sistema de som na casa de Pezão a mando de Cabral e recebeu entre 2007 e 2014 cerca de R$ 3 milhões dos operadores financeiros do ex-governador. Na mensagem de Bezerra a Amorim, enviada em novembro de 2011, consta apenas um e-mail de Flávio, sem qualquer outra informação. “Necessário, nesse contexto, o aprofundamento das investigações para conhecer a real intenção da indicação do escritório por Carlos Bezerra a César e Amorim”, afirma PGR.

A atuação profissional do filho de Pezão é conhecida desde 2014. Ele chegou a ser questionado sobre o tema durante a campanha ao governo. Ele defendeu o enteado, afirmou que o advogado não atuava em causas contra o Estado e que as empresas representavam só 2% do faturamento do escritório. Pezão também se disse orgulhoso por não ter de buscar emprego público para o enteado se sustentar. Em 2015, ele foi nomeado como subprefeito pelo então prefeito Eduardo Paes, à época no MDB, entre 2007 e 2014.

Relatório do Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) apontam uma sequência de operações financeiras suspeitas da JRO que se intensificam a partir de 2015. De acordo com o órgão, R$ 381,2 milhões foram movimentados de forma suspeita entre 2015 e 2018 em contas das empresas ou de pessoas vinculadas a ela. Entre 2004 e 2016, houve comunicação de saques em espécie de R$ 14,7 milhões.

Vidal e Gonçalves são amigos de Pezão. A JRO, fundada em 1997 em Juiz de Fora (MG), transferiu sua sede para Piraí, cidade do governador afastado, após a aproximação entre o trio. A empresa aumentou o número de contratos com o estado a partir da gestão Cabral.

Outro cliente do escritório Horta Jardim Advogados Associados é a Metalúrgica Valença, do empresário Ronald Carvalho. A firma atuou na montagem de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) ao longo da gestão Cabral. De acordo com o economista Carlos Miranda, gerente da propina do ex-governador, o empresário pagou vantagens indevidas ao grupo do emedebista.

Também já esteve no rol dos clientes da firma a Delta Construções, do empresário Fernando Cavendish. Ele foi condenado por lavar R$ 370 milhões para distribuir propina a políticos, entre eles Cabral.

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